As taxas sobre as bebidas açucaradas levaram a uma redução do consumo de açúcar calculada em 5 500 toneladas
Oferecer
água, fruta e produtos hortícolas nas cerimónias organizados pelo
Estado; retirar os saleiros dos restaurantes e limitar a publicidade de
produtos poucos saudáveis em eventos destinados a crianças. Estas são
algumas das medidas previstas na Estratégia Integrada para a Promoção da
Alimentação Saudável (EIPAS), publicada no final do ano, que, tal como
disse ontem o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, visa também
chegar a acordo com a indústria para a reformulação de produtos como
cereais, tostas, batatas fritas, bolachas e laticínios. A ideia é
reduzir as quantidades de sal, açúcar e gordura trans nestes alimentos.
"Vamos
com eles (indústria) discutir objetivos concretos para determinado
conjunto de gamas de produtos, ao longo de vários anos. A nossa proposta
é de três anos com metas anuais de redução de sal e de açúcar nos
produtos que consideramos mais importantes para ver se conseguimos por
esta via melhorar a qualidade da alimentação dos portugueses", afirmou
Fernando Araújo em entrevista à Lusa. A ideia, prosseguiu, é "colocar
objetivos de redução anuais, de modo a que estejam alinhados com as boas
práticas europeias".
Contactado
pelo DN, Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da
Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde, explicou que estas são
apenas algumas das 51 medidas que fazem parte da Estratégia publicada no
final do ano e elaborada com a colaboração de sete ministérios. Um
documento, frisa, que já mereceu elogios por parta da Organização
Mundial de Saúde (OMS).
"Um
dos objetivos é chegar a um consenso sobre os valores de redução a
atingir em cada categoria de alimentos. Quando os acordos estiverem
finalizados, haverá uma entidade externa que irá verificar se o que se
acordou chega a bom porto", adiantou ao DN o nutricionista,
acrescentando que esta medida "parte do princípio que há interesse de
ambas as partes - Estado e empresas - para a mudança". No entanto,
sublinhou, a "modificação terá de ser gradual, de forma a que a
indústria não perca consumidores".
Os
nutricionistas veem com bons olhos a intenção de reformular alguns
alimentos. "Acho que o Estado está a ser sensato na tentativa de chegar a
acordo com a indústria. É um diálogo que já provou ser muito útil em
Inglaterra, por exemplo, onde o consumo de sal é mais baixo", afirmou
Nuno Borges, da direção da Associação Portuguesa de Nutrição, destacando
que, no caso do sal, a "margem de redução é brutal", pois os
portugueses consomem mais do dobro do que é recomendado pela OMS.
Já
Isabel do Carmo, endocrinologista, reconheceu que "chegar a acordo com
indústria é sempre muito difícil", mas espera que "o Governo tenha força
suficiente para impor níveis mais baixos do que os praticados
atualmente". Contudo, destacou, é importante lembrar que os resultados,
nomeadamente "a redução das doenças cardiovasculares, "só vão surgir a
longo prazo". E as medidas só têm impacto integradas "num programa geral
em que a publicidade a alimentos hipercalóricos seja condicionada, por
exemplo, e os estabelecimentos de comida rápida estejam longe da
escola".
Entre as medidas
previstas na EIPAS, destacou Pedro Graça, está precisamente a limitação
da publicidade destinada a menores de idade de produtos alimentares com
excesso de sal, açúcar e gordura trans. Mas há muito mais, nomeadamente
estender a todos os organismos do Estado as restrições de venda de
alimentos nas máquinas automáticas, incentivar as opções pela produção
biológica nas compras públicas, alargar orientações alimentares a todos
os ciclos de ensino e incentivar as empresas do setor agroalimentar a
reduzir o tamanho das porções dos alimentos e bebidas pré-embalados.
O
diretor do PNPAS reconheceu ao DN que "algumas medidas são muito fáceis
de implementar, outras demorarão mais tempo e outras não sabemos se
serão concretizadas na totalidade". No entanto, frisou, "é o primeiro
passo para termos uma estratégia concertada" em Portugal com vista a uma
alimentação mais saudável, sendo que a educação assume também um lugar
de destaque nas medidas. "Não podemos trabalhar apenas na reformulação
dos produtos, se as pessoas não quiserem comprar esses produtos",
sublinhou o responsável.
Menos 5.500 toneladas de açúcar
Em 2017, os portugueses consumiram menos 5 500 toneladas de açúcar, uma descida associada à medida que taxou as bebidas açucaradas. Segundo o secretário de Estado da Saúde, esta diminuição deveu-se à redução do consumo, mas também à "reformulação dos produtos". Para o nutricionista Nuno Borges, "não é [uma redução] extraordinária, mas é um passo positivo e é possível que se atinjam valores mais relevantes no futuro". O dinheiro das taxas, prossegue, "devia ser aplicado em medidas eficazes de promoção de alimentação saudável e favorecimento de alimentos saudáveis".
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