quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Fracasso da genética: Ser vivo não é uma máquina controlada por genes

 09/02/2024

Redação do Diário da Saúde
Fracasso da genética: Ser vivo não é uma máquina controlada por genes
Na prática científica, a epigenética já superou a genética tradicional.
[Imagem: Etsuke Uno]

Fracasso da genética

É muito comum você ouvir os cientistas falarem a respeito do que eles sabem, mas é muito raro ouvir uma discussão aberta sobre o que a ciência ainda não sabe.

Assim, está sendo aclamada como muito bem-vinda uma discussão publicada esta semana pela renomada revista Nature, em um artigo intitulado "É hora de admitir que os genes não são o esquema da vida".

Depois de décadas de pesquisas e de bilhões de dólares gastos em esforços multinacionais como o Projeto Genoma Humano, o conhecimento científico atual não está mais embasando a ideia de que os organismos vivos operariam como simples máquinas, cujas instruções estariam escritas em seus genes.

"Quando o genoma humano foi sequenciado em 2001, muitos pensaram que ele seria um 'manual de instruções' para a vida. Mas o que acabou acontecendo é que o genoma não é um projeto [da vida]. Na verdade, a maioria dos genes não tem uma função predefinida que possa ser determinada a partir da sua sequência de DNA.

"Em vez disso, a atividade dos genes - quer sejam expressos ou não, por exemplo, ou o comprimento da proteína que codificam - depende de uma miríade de fatores externos, desde a dieta até o ambiente em que o organismo se desenvolve. E cada característica pode ser influenciada por muitos genes. Por exemplo, mutações em quase 300 genes foram identificadas como indicando um risco de uma pessoa desenvolver esquizofrenia," esclarece o artigo.

Houve tamanho exagero nas promessas que os cientistas fizeram na época do lançamento do Projeto e da publicação do primeiro genoma humano que surgiu uma espécie de "decepção com o genoma humano".

Estar bem com a incerteza

Mas o conhecimento avançou, e hoje se sabe que os genes operam de forma rítmica, seguindo o relógio biológico, o que tem levado a um crescente questionamento sobre a conexão entre genes e doenças. Também avançou o próprio entendimento sobre os genes e suas mutações.

Além disso, descobriu-se que os genes são regulados de forma diferente de pessoa para pessoa e emergiu todo um novo campo de pesquisas, conhecido como epigenética - o mais aceito hoje é que é o epigenoma que controla nossos genes.

Contudo, a "metáfora preguiçosa" dos sistemas vivos operando com instruções contida nos genes continua sendo repetida à exaustão, apesar de não mais se fundamentar no saber científico. "É importante estar aberto sobre a complexidade da biologia - incluindo o que não sabemos - porque a compreensão pública afeta as políticas, os cuidados de saúde e a confiança na ciência," propõe o artigo da Nature.

Mas os cientistas devem tomar cuidado para não substituir um antigo conjunto de dogmas por um novo, propõe o artigo: "É hora de parar de fingir que, uma peça a mais ou a menos, sabemos como a vida funciona. Em vez disso, devemos deixar as nossas ideias evoluir à medida que mais descobertas forem feitas nas próximas décadas. Ficar sentado na incerteza, enquanto se trabalha para fazer essas descobertas, será a grande tarefa da biologia no século XXI."

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