Empresa canadense publica estudo mostrando ser possível transformar gás carbônico em combustível líquido a um preço mais competitivo do que o de equipamentos com fins similares.
8 jun 2018
Uma empresa canadense financiada pelo bilionário americano Bill Gates
afirma ter inventado uma tecnologia capaz de remover o CO2 do ar a
preços acessíveis, o que pode se converter em uma forma eficiente de
conter os efeitos das emissões de gás carbônico responsáveis pelas
mudanças climáticas.
A Carbon Engineering publicou no periódico Joule um estudo - revisado
por colegas cientistas - dizendo que seu equipamento é capaz de capturar
o CO2 por menos de US$ 100 a tonelada.
A tecnologia de remoção de gás CO2 já existe, mas o faz a preços muito mais altos: cerca de US$ 600 a tonelada.
Além disso, a empresa quer inovar na forma como usa o gás retirado do ar, produzindo combustíveis líquidos sintéticos.
Ceticismo
Cientistas costumam ver com ceticismo técnicas de capturar emissões de CO2.
Para muitos deles, os planos de construir escudos solares no espaço ou
de lançar ao mar materiais que absorvam o carbono são uma distração à
tarefa mais mundana - e difícil - de fazer com que indivíduos e empresas
reduzam suas emissões de CO2.
Mas a tecnologia de capturar o CO2 diretamente do ar - basicamente,
imitando a ação das árvores - é vista, nesse cenário, como a técnica
mais robusta de lidar com o problema.
A ideia foi desenvolvida inicialmente pelo pesquisador Klaus Lackner,
nos anos 1990, e desde então algumas empresas de tecnologia construíram
protótipos de remoção de carbono.
Os projetos mais recentes são de uma usina de energia na Islândia, que
testa uma forma de capturar o CO2 e injetá-lo em formações de basalto
(transformando o gás em pedra), e o de uma empresa suíça, a Climeworks,
que filtra o gás do ar e armazena-o, para oferecê-lo a estufas, onde vão
estimular o crescimento de plantas. Mas o faz a US$ 600 a tonelada,
ainda que tenha a meta de baixar esse preço a US$ 100.
A Carbon Enginering afirma já ter alcançado esse limiar de preço.
"Isso é um grande passo adiante", afirma à BBC News David Keith,
professor da Universidade Harvard e cofundador da Carbon Engineering.
"Espero que isso mude as visões sobre essa tecnologia - de ser um
salvador mágico, que não é, ou de ser absurdamente cara, que tampouco é,
para uma tecnologia industrial que é factível e pode ser desenvolvida
de modo útil."
Fundada em 2009, a empresa canadense tem uma planta em funcionamento
desde 2015, que captura cerca de uma tonelada de CO2 por dia, em um
processo que funciona pela sucção do ar por uma torre refrigeradora com
ventiladores.
O gás extraído é usado como matéria-prima para um combustível sintético
líquido. A empresa produz atualmente cerca de um barril por dia,
combinando o CO2 puro com hidrogênio derivado da água, usando energia
renovável.
Segundo Keith, "o plano de longo prazo é de (produzir) cerca de 2 mil
barris por dia". A empresa agora busca investidores para construir sua
próxima usina, que é onde serão levados a cabo os planos de expansão
comercial.
Melhor que biocombustível?
A empresa afirma ainda que seu combustível de carbono pode trazer
vantagens em relação aos biocombustíveis, por usar menos espaço e água
em sua produção.
Observadores do setor elogiaram o fato de a Carbon Engineering estar
reduzindo o patamar de custos, mas acreditam que muitos subsídios e
incentivos governamentais serão necessários para que deslanche a
indústria de captura, armazenamento e utilização de carbono.
"As soluções técnicas para (combater) as mudanças climáticas já estão
disponíveis, mas as legislações dos países não oferecem incentivos ou
obrigações suficientes para que eles sejam usados em larga escala", diz à
BBC Edda Sif Aradóttir, da empresa Reykjavik Energy, responsável pelo
projeto islandês de transformar CO2 em rochas.
A Carbon Engineering admite que ainda tem muitos desafios pela frente -
Keith diz que existem "centenas de maneiras pelas quais podemos
fracassar" na empreitada. Mas ele acrescenta que a estratégia da empresa
ajudará a "descarbonizar" meios de transporte que ainda não foram
beneficiados pela tecnologia de veículos elétricos, como a aviação.
"Para combustíveis líquidos, o caminho é essa abordagem, de CO2 do ar mais hidrogênio obtido de fontes renováveis", defende.
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