O meu blog é HOLÍSTICO, ou seja, está aberto a todo tipo de publicação (desde que seja interessante, útil para os leitores). Além disso, trata de divulgar meu trabalho como economista, escritor e compositor. Assim, tem postagens sobre saúde, religião, psicologia, ecologia, astronomia, filosofia, política, sexualidade, economia, música (tanto minhas composições quanto um player que toca músicas de primeira qualidade), comportamento, educação, nutrição, esportes: bom p/ redação Enem
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020
Por que a premiê da Filândia diz que é mais fácil conquistar o 'sonho americano' nos países nórdicos
Cecilia Barría - Da BBC News Mundo,BBC News Brasilseg, 24 de fev 07:34 AMT
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Seria o modelo nórdico um exemplo a ser seguido?
"Sinto que o sonho americano é mais fácil de se conseguir nos países
nórdicos, onde cada criança, independentemente de sua origem ou a origem
de sua família, pode virar o que quiser."
Com essa declaração, feita por Sanna Marin, primeira-ministra da Finlândia, voltou a ganhar força o debate sobre a mobilidade social e as reais opções para que uma pessoa melhore suas condições de vida.
"Sentimos que o modelo nórdico é uma história bem-sucedida", disse,
ao Washington Post, a premiê de 34 anos, que assumiu o poder no país em
dezembro e é a primeira-ministra mais jovem do mundo.
Membro do Partido Social Democrata da Finlândia (SDP), a política
abordou um tema que foi frequentemente debatido na campanha da última
eleição presidencial nos EUA — e que se mantém presente na campanha
atual.
Do ponto de vista ideológico, o interessante é que, para muitos, o
modelo de desenvolvimento da Finlândia e dos demais países nórdicos
(Suécia, Dinamarca, Noruega e Islândia) é uma espécie de "melhor
socialismo" ou "melhor capitalismo" ao estilo nórdico.
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"Sentimos que o modelo nórdico é uma história bem-sucedida", disse, ao
Washington Post, a premiê de 34 anos, que assumiu o poder no país em
dezembro e é a primeira-ministra mais jovem do mundo
Os autores Anu Partanen e Trevor Corson publicaram recentemente uma
análise sobre o tema, intitulada "Finlândia é um paraíso capitalista".
"Na Finlândia, agora é mais fácil do que nos EUA para uma criança de
origem modesta superar o nível de renda da sua família. E isso é o que
costumava ser a força dos EUA e a essência do sonho americano", afirma à
BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) Anu Partanen, que é
jornalista e escritora finlandesa-americana e autora do livro The Nordic Theory of Everything (A teoria nórdica de tudo, em tradução livre).
A polêmica do argumento é qualificar o sistema finlandês como
capitalista, em circunstâncias em que tradicionalmente é considerado uma
social-democracia.
A respeito, Partanen responde que "os países nórdicos não pensam a
social-democracia como algo oposto ao livre mercado ou à propriedade
privada e ao investimento".
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"É possível ter social-democracia e capitalismo ao mesmo tempo", afirma autora finlandesa-americana
"É possível ter social-democracia e capitalismo ao mesmo tempo", afirma.
Partanen afirma que, na Finlândia, o livre mercado coexiste junto a
um sistema de proteção social com serviços de saúde e educação admirados
internacionalmente.
E, nesse contexto, o país gerou empresas altamente rentáveis e está amplamente aberto ao fluxo de capitais.
Dessa perspectiva, a autora defende que não é apropriado rotular os
países nórdicos de socialistas — descrição que costuma estar presente,
do outro lado do Atlântico, na discussão eleitoral entre democratas e
republicanos nos EUA.
"A região nórdica é um laboratório onde os capitalistas investem na
estabilidade de longo prazo e na prosperidade humana, enquanto ganham
lucros saudáveis", diz.
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Segundo o índice de Mobilidade Social 2020, a Finlândia é o terceiro
país do mundo em que as pessoas têm mais possibilidade de prosperar,
independentemente de sua origem econômica
Mais igualdade de oportunidades
Segundo o índice de Mobilidade Social 2020, publicado pelo Fórum
Econômico Mundial, a Finlândia é o terceiro país do mundo (depois da
Dinamarca e da Noruega) em que as pessoas têm mais possibilidade de
prosperar, independentemente de seu status socioeconômico ao nascer.
O relatório afirma que 17 das 20 sociedades com maior mobilidade social estão na Europa, enquanto os EUA ocupam o 27º lugar.
A mobilidade social é "menos difícil de se lograr nos países
nórdicos", a partir da comparação da renda de uma pessoa com a renda de
seus pais, diz à BBC News Mundo Markku Lehmus, do Instituto de Pesquisas
da Economia Finlandesa, em Helsinque.
Os problemas dos nórdicos
Embora concorde que a mobilidade social se destaca na região nórdica,
Johan Strang, pesquisador do Centro de Estudos Nórdicos da Universidade
de Helsinque, lembra que esses países não são lugares idílicos — e
ainda têm muitos desafios pela frente.
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Imigrantes iraquianos na Finlândia; países nórdicos têm tido
dificuldades em integrar imigrantes, e mobilidade social não está em
alta
Ele afirma, por exemplo, que a mobilidade social nórdica "tem caído
nas últimas décadas" e a desigualdade, aumentado. Acrescenta, ainda,
que, nesses países, tem aumentado o abismo entre bairros ricos e pobres,
ou entre escolas melhores e piores, especialmente na Suécia.
Além disso, afirma Strang, os países nórdicos têm tido dificuldades na inclusão de imigrantes.
As diferenças entre os nórdicos e os EUA
Uma visão completamente distinta tem James Pethokoukis, pesquisador
do centro de estudos The American Enterprise Institute, em Washington.
"Os EUA são uma superpotência (...) com grupos étnicos e raciais que
historicamente estiveram em desvantagem", ele diz à BBC News Mundo,
opinando que não é possível comparar o sistema nórdico com o da maior
economia do mundo, com mais de 320 milhões de habitantes.
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James Pethokoukis diz que não é possível comparar a pequena nação
finlandesa com os EUA, de 327 milhões de habitantes e grandes diferenças
regionais
A Finlândia, em contrapartida, tem cerca de 5,5 milhões de habitantes
(mais ou menos a metade da população da cidade de São Paulo), que não
compartilha da história, da política, da população ou da cultura dos
EUA, diz Pethokoukis.
Ele argumenta que algo que funciona bem em um sistema mais social e
economicamente homogêneo não teria por que funcionar bem nos EUA.
Quanto ao sistema tributário, ele diz que, embora a Finlândia seja um
país com uma grande carga de impostos em termos gerais, não aplica essa
mesma carga para suas empresas.
Segundo ele, a despeito do senso comum, "a Finlândia tem uma taxa de
impostos corporativos baixa, de 20%, frente a 21% daqui [EUA]".
Ao mesmo tempo, o imposto de renda nos países escandinavos é muito
mais alto do que nos EUA, o que lhes permite financiar serviços públicos
gratuitos. "Riqueza equitativa"
William Judge, acadêmico da Escola de Negócios Strome, da
Universidade americana Old Dominion, diz à BBC News Mundo que os EUA,
com sua estrutura de impostos historicamente baixa e uma rede de
segurança social limitada, é um país bom para produzir riqueza.
Mas ele também destaca que é cada vez mais difícil, nos EUA, que quem
nasceu em lares pobres ou de classe média chegue a níveis mais altos de
renda.
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'O que precisamos é de um sistema político que produza uma criação de riqueza equitativa', opina analista americano
"Os escandinavos parecem estar mais perto do sonho americano que os
EUA", diz Judge, destacando, porém, que o objetivo de aumentar a
mobilidade social é muito mais fácil de ser obtida em um país pequeno e
de população homogênea.
E, se tratando de um ano eleitoral nos EUA, prossegue ele,
"infelizmente a esquerda foca apenas em melhorar a equidade, enquanto a
direita foca apenas em maximizar a eficiência".
"O que precisamos é de um sistema político que produza uma criação de riqueza equitativa", opina.
Qual lado do Atlântico, então, está melhor? Depende do indicador analisado.
Os EUA têm maior crescimento econômico, menos desemprego, mais
multimilionários e um mercado financeiro mais rentável que o da
Finlândia na última década. Supera o país nórdico no Índice Global de
Empreendedorismo e no Índice de Liberdade Econômica, da Fundação
Heritage.
Já a Finlândia tem maior mobilidade social e menos desigualdade,
ocupa o primeiro lugar no ranking de felicidade, oferece saúde e
educação superior gratuitas e licença maternidade e paternidade.
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Finlândia tem maior mobilidade social e menos desigualdade e ocupa o
primeiro lugar no ranking de felicidade — mas ficará cada vez mais
difícil manter isso com o envelhecimento da população
Essa simplificação das diferenças, no entanto, tem uma infinidade de nuances.
Por exemplo, nem todos os jovens conseguem ingressar no seletivo
sistema de educação superior gratuito finlandês; e a qualidade do
serviço de saúde tem variações a depender do município.
Ao mesmo tempo, a população finlandesa está envelhecendo rapidamente,
o que representa uma grande desafio sobre como sustentar o modelo de
bem-estar social diante de uma população economicamente ativa menor.
Nos EUA, que têm apresentado índices bons de crescimento econômico,
cresceu a concentração de riqueza e estima-se que o deficit orçamentário
(diferença entre o que o governo arrecada e gasta) alcançará, neste
ano, a cifra histórica de US$ 1 trilhão.
Vale lembrar também que a dimensão e as diferenças regionais dos EUA
fazem com que seja uma experiência completamente distinta crescer em uma
região afluente na Califórnia ou em uma cidade pobre do Alabama, do
Mississippi ou do Texas.
Com as eleições presidenciais de
novembro, é provável que a discussão econômica e política sobre
impostos, emprego, desigualdade e crescimento siga ganhando força — e as
comparações com outros países, também.
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