segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Cientistas propõem 10 medidas para proteger os polinizadores na Natureza

Uma equipe internacional de 12 cientistas, entre os quais três brasileiras, Blandina Viana, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ariadna Lopes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Carmem Pires, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, publicou nesta sexta feira (25/11) artigo na respeitada revista científica Science confirmando o declínio em larga escala dos polinizadores em várias partes do mundo e propondo aos governos em geral a implementação de 10 ações políticas para salvaguardar  os serviços de polinização fundamentais à produção agrícola.

O sistema agrícola convencional, com destaque para seu uso intensivo de pesticidas, é apontado no artigo como o grande responsável pelo declínio dos polinizadores em larga escala no nordeste da Europa e nos Estados Unidos e em queda menos acentuada, mas exigindo urgente monitoramento, em outras regiões do planeta, incluindo o Brasil, onde a equipe de Blandina Viana vem há anos desenvolvendo trabalhos sobre os polinizadores — em especial em áreas de cultura da maçã e café na Chapada Diamantina, Bahia (ver, a propósito, reportagem sobre outro artigo da Science, de janeiro deste ano, no Ciência na rua.

Ao longo desses últimos anos, ajudamos a produzir uma avaliação científica global de polinizadores e polinização, demandada pelos países signatários da Plataforma Intergovernamental sobre a Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – IPBES”, disse Blandina Viana, professora do Instituto de Biologia da UFBA e coordenadora de um dos capítulos da avaliação temática do IPBES da ONU.
Essa avaliação, segundo ela, confirmou que os polinizadores silvestres e manejados “trazem inúmeros benefícios para os seres humanos, incluindo os efeitos diretos sobre a produção de frutas, legumes e óleos”. Mas esses polinizadores estão em declínio em diversas partes do planeta, e “dentre as causas principais destaca-se o sistema agrícola convencional”. Foi com base nisso, acrescentou, que “sugerimos 10 ações políticas que os governos e os formuladores de políticas em todo o mundo devem considerar para salvaguardar os polinizadores e os serviços de polinização, quais sejam”:
  •        Elevar os padrões regulatórios para os agrotóxicos, o que inclui considerar os efeitos indiretos dos agrotóxicos nas avaliações de risco e avaliar os riscos para uma série de espécies de polinizadores, e não apenas para as abelhas;
  •        Promover o manejo integrado de pragas (IPM), reduzindo o uso de agrotóxicos;
  •        Incluir efeitos indiretos e subletais nas avaliações de risco de culturas geneticamente modificadas, pois apesar de não se saber o suficiente sobre o impacto dos cultivos transgênicos nos polinizadores, algumas culturas GM são tóxicas para os insetos e podem ter efeitos sutis nas populações de polinizadores.
  •        Regular o movimento dos polinizadores controlados, para evitar a proliferação de doenças e controlar a introdução de espécies invasoras;
  •        Desenvolver incentivos, como os esquemas de seguros, para ajudar os agricultores na transição para uma agricultura com menor uso de agroquímicos;
  •        Reconhecer a polinização como um insumo agrícola nos serviços de extensão;
  •        Apoiar sistemas agrícolas diversificados, como os sistemas agroflorestais e policultivos, práticas que ajudam a manter os polinizadores por proverem alimento e abrigo;
  •        Conservar e restaurar “infraestrutura verde” (uma rede de habitats entre os quais os polinizadores podem se mover) em paisagens agrícolas e urbanas. Isso porque, para polinizar as culturas, os polinizadores selvagens necessitam de habitats em torno dos cultivos que forneçam locais de nidificação e recursos florais. Essas manchas de habitat precisam ser suficientemente próximas para que insetos ou pequenos pássaros voem entre elas – não mais de 500 metros de distância para as abelhas médias;
  •        Desenvolver o monitoramento de longo prazo dos polinizadores e da polinização;
  •        Financiar pesquisas participativas sobre a melhoria dos rendimentos na agricultura orgânica, diversificada e ecologicamente intensificada.
Para a pesquisadora da UFBA, no Brasil, “onde a agricultura é uma vocação natural, com expressiva participação na economia”, a implantação de tais políticas poderá ter um grande impacto socioeconômico e garantir a sustentabilidade a longo prazo para o setor.

Fonte: UFBA em Pauta.

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